terça-feira, 8 de fevereiro de 2011


DIVERSIDADE SEXUAL NA MÍDIA

Já é de conhecimento público que a maior formadora de opinião é a mídia. Seja ela no formato que for, uma boa matéria ou programa, é capaz de mudar a visão de uma sociedade. Um dos programas que vem mantendo o nível de sua audiência, apesar de já estar em sua 11ª edição, é o Big Brother Brasil, que este ano inovou transformando a casa de confinamento em um verdadeiro exemplo da sociedade atual na plenitude de sua diversidade sexual.

Nessa edição temos heterossexuais, bissexuais, homossexuais e transexuais, e até os assexuados, como assumido pela participante Diana. Todos convivendo dentro do limitado espaço de confinamento. Seria um grande avanço na conscientização social se não se tratasse de uma afronta a moral e aos grupos ali representados. Os atuais candidatos selecionados não agregam valores, sendo reconhecidos apenas por suas opções sexuais, sem ter mais nada a acrescentar como indivíduos ou cidadãos. Um exemplo disso foi a afirmação da participante Diana que se conceituou como assexuada, apesar de suas explicações serem voltadas ao bissexualidade. Diga-se de passagem, assexuado é aquele que não sente atração sexual, tanto pelo sexo oposto quanto pelo sexo igual, é uma orientação caracterizada pela indiferença à prática sexual.

O que antes foi um exemplo, a participação de Jean Wyllys, Angélica Morango, pequenos exemplos de demonstração de personalidade, pessoas que foram reconhecidas por seu caráter e personalidade, indo além da sua orientação sexual, hoje é mostrado como verdadeiro circo de horrores, sem respeito e sem valores. Atualmente o programa mostra uma pequena sociedade sem regras onde não há o menor pudor ou respeito aos que assistem, mesmo sabendo que são vigiados 24 horas por dia. Não há a menor preocupação com relação aos preceitos sociais, em uma forma de afrontar a opinião pública, jogando na cara dos telespectadores uma realidade mentirosa, promíscua, desrespeitosa e antiética.

Para a população em geral, os homossexuais viraram velhas mexeriqueiras. Os bissexuais totalmente promíscuos, desrespeitosos e sem valorização pessoal. Os transexuais mascarados, pois escondem sua orientação até que não haja mais tempo. Os heterossexuais, como em um universo a parte, rodeiam este mundo considerado paralelo.

Essa fictícia realidade deve ser fortemente combatida. Já temos preconceitos demais em torno de cidadãos comuns que possuem orientação sexual diversa da maioria. A diversidade sexual é uma realidade e a sexualidade faz parte da vida das pessoas em sua forma mais íntima, não sendo limitadora e não podendo ser utilizada como base para conceituar alguém. O conceito mais importante e muitas vezes desconsiderado é de que somos cidadãos, com direitos e deveres que devem ser reconhecidos e respeitados.

Depois de anos lutando pela igualdade entre homens e mulheres, brancos e negros, permanecemos nessa luta de reconhecimento, e a cada época mudamos o seu foco, mas sempre mantendo algum tipo de preconceito social. O foco atualmente escolhido é baseado na orientação sexual do indivíduo. Quando será que vamos perceber que independente do sexo, da raça, da orientação sexual, ou de qualquer denominação futura, somos todos iguais? Quando vamos parar de ramificar os conceitos para aceitar uma única conceituação viável, de que todos somos humanos?

Os anos passam, as armas mudam, os gladiadores se especializam, mas a batalha continua a mesma. A busca de um ser humano, um ser social, um cidadão pela aceitação de sua espécie, independente das demais diferenças que possuam, parece eterna. Chegou a hora de respeitarmos aquele que na outra parte do espelho se mostra nosso igual. Isso deveria bastar para a valorização pessoal do indivíduo. Em um mundo tão devastado por desgraças maiores, calamidades públicas, fome, miséria, dor e morte, as pequenas diferenças não deveriam ser valorizadas, apenas respeitadas, possibilitando a coexistência social de forma harmônica e pacífica.

A valorização do indivíduo como ser único e participante de uma sociedade justa deveria ser o foco da atenção de todos, tendo a mídia como catalisador, para que a opinião da sociedade pudesse ser enraizada na realidade e na esperança de grupos já tão marginalizados. Mas como “a esperança é a última que morre”, pouco a pouco, vamos lutando para mudar essa realidade social na qual vivemos, com a certeza de que enquanto houver um guerreiro disposto, a luta ainda não acabou.

Andréa de Andrade Fernandes
Vice Presidenta da Comissão de Diversidade Sexual e Combate à Intolerância
FONTE: OAB/RN

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